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José Cardoso
“UMA ESCOLA DE EXPERIÊNCIA NO CINEMA MOCAMBICANO”
Nasceu numa aldeia no Norte de Portugal a 6 de Abril de 1930, chega em Moçambique 7 anos depois, onde exerceu a profissão de técnico de farmácia durante 32 anos.
José Cardoso afirma que entrou para o cinema, aquando da fundação do grupo amadores de cinema na Beira na década de 50 o qual ele foi um dos primeiros fundadores, na província de Sofala, mas por razões de uma maior abrangência, o grupo de amadores de cinema foi extinto, dando lugar a criação do cine clube da Beira, visto que o grupo de amadores apenas se limitava àqueles que se destinavam a fazer filmes, diferente deste o cine clube da Beira envolvia, por um lado aqueles que faziam filmes, e por outro aqueles que queriam vê-los, deste modo estruturavam as suas actividades em secções: primeiro numa secção de cinema amador e outra secção de exibição e depois faziam palestras de forma a discutir os conteúdos cinematográficos.
Foi a partir desse contexto de se envolver, de fazer, de discutir cinema de forma propedêutica que José Cardoso cimentava sua biografia cinematográfica, com a sua maquina de filmar no formato 8 e 16 mm adquirida com bastante dificuldade segundo o mesmo, o cineasta moçambicano escrevia seus guiões e a partir dai produzia seus primeiros filmes, dentre eles destacam se pequenos documentários e filmes como o anúncio (1966), pesadelo (1968), raízes (1969), onde os quais foram premiados em festivais internacionais enquanto cineasta amador.
começa a exercer profissionalmente seu trabalho de cineasta após a independência, onde realizou com bastante significância trabalhos no Instituto Nacional de Cinema, produzido filmes como, que venham (1981), o papagaio (1981), canta meu irmão, ajuda-me a cantar (1982), Buzi as duas margens de um rio (1983), Frutos da nossa colheita (1984), O Vento sopra do Norte (1987).

O filme o vento sopra do norte foi o primeiro trabalho de ficção moçambicana, orquestrada por José Cardoso, que contou com a participação, de Camilo de Sousa, Machado da graça, Isabel de Noronha Gabriel Mondlane entre outros profissionais, segundo o cineasta o filme foi um sucesso “ este filme teve um impacto muito grande, tendo duas secções diárias, casa sempre cheia atingindo cerca de 100mil espectadores, embora não tenha uma boa qualidade hoje tanto ao nível do som, como da imagem, eu acho que a juventude actual tinha que vê-lo, mas porque se trata do primeiro filme feito originariamente por moçambicanos ”    
O mesmo filme desde a sua concepção, portanto desde a construção da ideia levou um ano e meio para sua finalização, como também foram encaradas várias dificuldades, mas as mesmas foram superadas, tanto ao nível técnico, como ao nível de representação dos actores, isto foi possível, pela vontade de fazer coisas, e estar envolvido nelas, ainda mais numa época de crise, onde sequer alimentos existiam para manter o grupo produtivo, no que acabou influenciando nas dificuldades para a realização do filme.
O cineasta recebe com bom agrado a iniciativa do ciclo de cinema moçambicano, e sugere que não se limite apenas em filmes nacionais, e que se busque também algo sobre cinematografia mundial, porque isso pode auxiliar na maximização de mais conhecimentos, visto que existem realizadores que se tornam obrigatório ver, como vitorio de sik da escola do Neo-realismo Italiano.
 Para fazer cinema e preciso ver, nós no cine clube da Beira, víamos os filmes e depois debatíamos, acho isso muito fundamental ”  
   Por Carlos Massingue
   Estudante de Filosofia


 Painel_ Making Of: A História de um filme.

Nós tínhamos o melhor equipamento em Moçambique, a grua mais cara estava lá e o melhor equipamento de edição, tudo comprado pelo governo de Moçambique…”

Nós tínhamos o melhor equipamento em Moçambique, a grua mais cara estava lá e o melhor equipamento de edição, tudo comprado pelo governo de Moçambique…”
O Ciclo de Cinema Moçambicano na sua terceira edição trouxe na segunda semana de actividades o painel denominado Making Of: A Historia de um filme. Foi um dia reservado para uma conversa com a equipe moçambicana que em meados de 1985 esteve a trabalhar no filme “O tempo dos Leopardos”, uma produção conjunta entre Moçambique e Jugoslávia. Fizeram parte deste painel grandes figuras do cinema moçambicano e porque grandes figuras contam sempre grandes histórias este painel acabou nos trazendo grandes revelações. Camilo de Sousa que trabalhou no filme como primeiro assistente de produção, Machado da Graça que além de fazer o papel de um capitão da PIDE foi responsável pela cenografia e figurino e a grande e carismática cineasta Isabel Noronha que ainda experimentava os primeiros sabores da produção cinematográfica esteve envolvida na equipe de produção como responsável pela logística. 
 
Este filme foi feito na Jugoslávia (Belgrado) e Moçambique (Ilhas de Inhaca e de Xifina), num período em que o país encontrava-se numa situação económica bastante crítica. Apesar das dificuldades e com a força de vontade dos integrantes da equipa o filme acabou saindo. “A parte da logística era o grande problema dada a época em que foi feito o filme, não havia mantimentos” diz Isabel Noronha.
Alem do problema relacionado ao factor económico, Camilo de Sousa recordou os vários momentos de tensão vividos com o pessoal da equipe Jugoslava. Um problema ligado a questões políticas já que nesta equipa havia homens da Servia, do Belgrado entre outros e alguns tinham diferentes ideologias políticas pelo que quase sempre “se pegavam”, havendo até momentos que os moçambicanos tiveram que intervir para evitar o pior.
Machado da Graça recorda, aliás não recorda como entrou para a equipe de produção “ para falar a verdade já não me recordo como entrei na produção deste filme, lembro que na altura trabalhava com cenografia para teatro mas nunca tinha feito nada para o cinema”. Para alem de trabalhar na cenografia, Machado da Graça teve também neste filme o desafio de trabalhar como actor e com figurino “lembro que fomos para Cabo Delgado, andávamos de aldeia em aldeia e comprávamos restos de roupa de guerrilheiros da Frelimo e em troca dávamos maços de tabaco e capulanas novas, com isso conseguimos muito material usado neste filme.”

Falou-se muito das dificuldades relacionadas a questão da logística com a falta de mantimentos, mas uma questão que é paradoxal a isto é que o governo, apesar das dificuldades que o país atravessava naquela altura, deu um apoio muito importante para a produção cinematográfica. “Nós tínhamos o melhor equipamento em Moçambique, a grua mais cara estava lá e o melhor equipamento de edição, tudo comprado pelo governo de Moçambique” referiu Camilo de Sousa.
A proclamação da Independência no dia 25 de Junho de 1975 foi o primeiro acto cultura moçambicano e a criação do INC (Instituto de Nacional de Cinema) poucos meses depois da independência foi o segundo acto cultural” palavras de Camilo quando se referia a importância que o governo do então presidente de Moçambique independente Samora Machel dava ao cinema pois sabia o quão forte e poderoso era como instrumento de unidade nacional.
No final da conversa ainda houve espaço para a apresentação de alguns momentos do backstage da produção, através da projecção de fotografias de arquivo. Momentos em que os convidados recuaram no tempo e no espaço através das imagens, trazendo lembranças e H(e)estórias que com certeza ficaram marcadas na memória.

Por Nelson Moiane

 
Entrevista com o prof. Nataniel Ngomane 

Ngomane deixou evidente a satisfação de fazer parte do grupo que propiciou esta iniciativa de introduzir    Ciclos de Cinema Moçambicano na Universidade Eduardo Mondlane, e por via desta se sente bastante     orgulhoso  “ que os Ciclos de Cinema Moçambicano se mantenham e continuem no meio doutros Ciclos como o Ciclo de Cinema Europeu e o Dockanema.”

Mais adiante, clarificou a vantagem destes Ciclos dentro da Comunidade Universitária, que por um lado, tem a vantagem de se fazer uma mostra daquilo que é nosso enquanto orgulho nacional doutro lado a oportunidade de se trazer os fazedores de Cinema de forma a interagir  com o público universitário, sob diversas plataformas, como mesas redondas, debates em torno dos filmes projectados, desejando ainda um maior público universitário, não só ao nível da Universidade Eduardo Mondlane mas doutras Universidades visto que a aderência por parte deste público seja um processo por se alcançar.
Quando interpelado sobre que intenção existe detrás destes Ciclos de Cinema em plataformas de debates e mesas redondas, e se por meio desta não haveria uma pretensão de se introduzir um Curso de Cinema na Universidade Eduardo Mondlane.
A sua resposta fez transparecer um ar categórico, dizendo que SIM vai existir o Curso de Cinema na Universidade Eduardo Mondlane, mas a sua dúvida particularmente reside se o Curso será leccionado na ECA Escola Comunicação e Artes ou na FLCS Faculdade de Letras, e Ciências Sociais, mas a certeza é mais uma vez confirmada que o Curso de Cinema na Universidade será uma realidade mas sem datas previstas e sem um local predeterminado.

Um dos factos da apetência para esse curso são os indicadores, como o Festival do Filme Documentário Dockanema acolhido na Universidade, também por este ser um impulsionador na perspectiva de repensar o Cinema, o outro indicador é a criação dos Ciclos de Cinema Moçambicano como forma de abrir mais espaços, como também do curso de curta duração de analise fílmica já introduzido na faculdade portanto este pode ser um indicador que é necessário e fundamental se introduzir o Curso de Cinema, mas também de uma forma geral, a imagem segundo o académico, pode ser um meio poderoso e de extrema importância para divulgação disponibilização da informação, particularmente numa sociedade como a nossa, com grandes índices de alfabetismo e com sérios problemas de aquisição da informação escrita, não resta nenhuma dúvida que a imagem pode contribuir de forma significativa para o progresso e desenvolvimento de uma sociedade melhor.

   Por Carlos Massingue
   Estudante de Filosofia




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